15 de agosto de 2009

Medo de envelhecer

O medo de envelhecer tem suas raízes na mesma fonte de todos os demais, só que potencializado pela proximidade da possibilidade da morte. Mas, na verdade, medo é um sentimento que somos todos portadores. É mais uma das muitas barreiras que temos que ultrapassar no processo de amadurecimento, de formação psico-emocional. E é um inimigo a ser vencido. Supõe, portanto, que temos de guerrear com ele.

A culpa é outro inimigo que nos causa males incalculáveis. Livrar-se deles é aumentar a possibilidade de sermos mais felizes. Mas é do medo de envelhecer que eu quero falar. Como envelhecer em um país como o nosso, onde tudo existe em função de uma cultura da juventude eterna. A indústria e o comércio da promessa de juventude se fazem presente em tudo; nos meios de comunicação a publicidade é evidentemente voltada para o mito da juventude. Eu disse "mito" , porque a fase jovem do ser humano é a menor de todas, só perde pra infância.

A maior de todas e onde passamos a maior parte da vida é a idade adulta. è claro que a cada dia vai, gradativamente diminuindo o viço da pele e, lá pelas tantas, começamos a sentir mudanças na agilidade física, o pique, como se diz. E não fomos educados para enfrentar essas mudanças. Por isso sofremos, incentivados pela valorização da juventude eterna.

Para a maioria das mulheres, envelhecer é assunto proibido, como se isso nunca fosse acontecer. A juventude estaria, para elas, ligada possibilidade de conseguir amor, sexo e sucesso. A perda da juventude física (porque a mental não se perde) funciona como um fim de caminho, quando ainda lhes falta viver outro tanto.

Uma vez li em algum lugar que as pesquisas médico-genéticas estariam em busca de um meio de fazer com que o indivíduo cessasse o envelhecimento em torno dos quarenta anos. Ficaríamos "congelados" com a aparência de adulto jovem enquanto vivêssemos. Mas não tenho notícias de que estejam perto de conseguir essa façanha. Retardar, com cirurgias plásticas, cosméticos, muita malhação, alimentação saudável, isso sabemos que sim.

Também com a mudança dos valores culturais , permitindo que homens e mulheres se vistam de forma colorida, moderna e descontraída, nos faz ver, por aí , pessoas que conseguem parecer jovens por mais tempo. Mas isso é cultural. Hoje podemos encontrar mulheres de idade cronológica avançada , apertada em "jeans" e até de mini-saia. Conheço várias. São as inconformadas e ignorantes dos mistérios da vida. Ridículas, até. Perda de tempo,só não envelhece quem morre antes e morrer antes de viver, convenhamos, não é um bom negócio. Viver é uma tarefa que começamos na hora que nascemos e convém que se faça bem feita a lição de casa: Aprender a viver... a entender a vida como um ciclo, etapa por etapa e com todos os encantos que cada uma traz consigo.

Não "aprender" essa liçãozinha básica é condenar-se à desolação além de deixar escapar as muitas compensações que temos quando estamos mais avançados nos anos vividos. Uma tristeza misturada com desesperança, com generosas pitadas de decepção é o que fica no íntimo de quem ignora que terá de envelhecer um dia e morrer depois.É uma sensação de fim de caminho. Com ela vem o desânimo, o desamor e tudo desvirtuam. A vida perde o foco, a graça já não tem graça, o mundo fica branco e preto. A desolação é a consciência de que o tempo passou e fomos excluídos de viver o futuro. Só sobra o hoje, um resto de vida que se chama presente e que amanhã já será passado.

É chegada a hora de contabilizar as perdas e os ganhos. Perdemos o desejo, a paixão e o entusiasmo. Fogo baixo, lembranças em alta. Mas será que é assim mesmo? Até por aí. Tem muita vida debaixo do sol; é só olhar bem que, com certeza, vamos enxergar. Melhor seria contabilizar os ganhos, por mais difícil que possa ser a tarefa. A vida vivida é ganho sobre a morte prematura.

Sempre que penso nisto lembro de quem nem teve a chance de viver. Que lindas são as histórias que os mais velhos têm guardadas na memória e podem contar aos mais jovens. São testemunhas oculares. Viram a vida acontecer, foram abençoados com filhos e netos. De nada adianta se queixar que não podem mais dançar porque as pernas não agüentam. Dance do mesmo jeito, devagar, no ritmo de seu tempo. Desistir de continuar buscando felicidade é condenar-se à depressão, é ingratidão com quem lhe deu a vida, é condenação.

Posso garantir às jovens, que aprendi que a os arroubos da juventude nos fazem sofrer. As paixões avassaladoras, os desejos desenfreados não devem deixar de serem vividos, mas que aos poucos vão vão sendo, sutilmente, substituídos por sabedoria, sossego, paz interior e desapego às coisas mais mundanas. E tem a alegria que cada neto nos traz, a substituição de paixões por amores verdadeiros, por segurança emocional e pelo controle de si mesmo e força nas mãos para segurar as rédeas dos cavalos selvagens que habitam em nós e que domamos , uns com muita dor , outros com muito amor.

2 comentários:

Vera Rolim disse...

Maria Alice, está coberta de razão!
Lembro-me que na faculdade (Turismo) falávamos muito sobre acessibilidade, programas e viagens para idosos, alimentação e transporte adequados, com todos os cuidados necessários a essa faixa etária.
Inclusive portadores de necessidades especiais.

Pesquisas revelam que daqui pra frente a população idosa tende a aumentar, pq os avanços da medicina são rápidos.
A infraestrutura das cidades terá que ser refeita em prol dos idosos que a habitam.
Rampas de acesso nas esquinas, corri-mãos, escadas rolantes, pias e orelhões rebaixados, uma infinidade de coisas.

Temos que reivindicar!

www.sualista.com.br disse...

www.sualista.com.br