16 de agosto de 2009

Eu também aprendi

Difícil escrever sobre “Eu aprendi que...” sem parecer que estamos parafraseando Charles Chaplin, mas juro que me policio muito quando escrevo. Não quero me parecer com ninguém, muito menos imitar esse ou aquele escritor. Tento ser eu mesma sempre, às vezes mais inspirada, outras menos, mas sempre eu.

Aprendi a vida ao vivo. Quando era criança e ainda na minha idade jovem, não havia televisão e os modelos a serem seguidos eram nossas avós, mães, tias e professoras. Os meios de comunicação disponíveis, o velho e fanhoso rádio, algumas poucas revistas e aqueles imensos jornais, que meu pai lia e depois deixava de lado para que fosse usado para acender o fogo do fogão de lenha ou fazer pacotes, quando não se dispunha de algo mais adequado.

Mas antes que fosse dado o destino final a essas preciosidades eu os abria no chão e sentava em cima deles para conseguir lê-los. Eu era menor do que o tamanho das folhas. O gosto pela leitura me nasceu assim, ainda soletrando e dando preferência, inicialmente, para as manchetes, pois eram como são até hoje, escritas com letras grandes. A música do rádio fanhoso me fez aprender a dançar, a dar ritmo à vida e trouxeram consigo as primeiras poesias, as palavras de amor das apaixonadas letras da época fizeram aflorar minhas emoções.

Aprendi que ler é fundamental, que emocionar-se é o que nos torna pessoas melhores, que amar é preciso, senão secamos o coração e o preço disso é ter de umedecê-lo com lágrimas. E aprendi a cantar chorando, a sorrir quando deveria gritar. Chorei de felicidade por coisas boas que a vida me deu, por mim mesma quando aprendi a me conhecer melhor e perceber que eu não era mais uma mulher no mundo, mas que sou única e que eu mesma precisava cuidar de mim. E segui vida afora rindo de nervosa, muitas vezes tendo que brigar pelas coisas nas quais acreditava, combatendo a injustiça, levando muitos “não” como resposta aos meus anseios, essas coisas que todas temos em comum.

Ser mulher é graciosamente belo, a começar pelo dom de gerar filhos e de ter com isso a certeza de eternizar-se. E fazemos muito mais que dar a vida; ficamos sem calçados para que nossos filhos possam tê-los, comemos menos para que eles comam mais. Ouvi uma mulher dizer que não gosta até hoje de sorvete porque quando seus três filhos eram pequenos, não podia pagar por quatro e ficava sem, dizendo às crianças que não comia porque não gostava. Abdicava de ter esse pequeno prazer para que eles o tivessem. Aprendi que o amor de uma mulher faz o mundo girar e faz toda a diferença.

Não acredito, por essas poucas razões que as Dafnes, as Mayas , as Melissas e tantas outras heroínas de mentirinha, criadas sob encomenda pela mídia, possam servir de modelo , de protótipo de mulher de verdade. Aprendi que para ser mulher de verdade temos que, antes de tudo, conhecer as circunstâncias nas quais estamos inseridas, responsabilizando-nos pelas escolhas que fazemos, com coragem, dentro de nossas limitações, procurando fazer fluir o nosso melhor.

Aprendi que nunca receberemos um diploma de fim de curso na escola da vida. O fim de uma etapa é também o começo de outra.
Entre as muitas coisas que aprendi é que devo dividir, compartilhar com todas minhas vivências, pois se não for assim já não serviriam de nada.