15 de agosto de 2009

A insustentável leveza do amor

O que mais se vê e ouve por aí é falar de amor.
Nada de novo. Sempre foi assim desde os bons tempos que só tínhamos o velho e bom rádio, música romântica invadindo corações carentes e solitários. Hoje, com a televisão mostrando amores impossíveis, paixões avassaladoras que sempre acabam dando certo no último capítulo, tudo leva ao desejo de viver essas emoções a qualquer preço. Tem ainda a Internet, que trouxe para a solidão amorosa de muitos o amor virtual. Novas tecnologias, novas possibilidades.

E o amor está cada vez mais no ar, na rede, nas ondas elétricas, cibernéticas etc. e tal. Difícil mesmo é encontrá-lo no coração das pessoas, mas isso é outra história, assunto para depois.
Hoje, depois de se ter banalizado quase tudo, inclusive a vida, o mais nobre dos sentimentos, imortal segundo muitos, vem sofrendo desse mal, coitado dele.

Confundido com paixão, alteração dos sentidos, instinto de reprodução, desejo sexual o pobre amor recebe de presente adjetivos, advérbios, vira substantivo composto para se tornar um grande amor, um amor sem fim, eterno, infinito e outros qualificativos que o justifiquem e amparem. Amor tem que rimar com dor, com flor, tem de ser doído, sofrido e, de preferência unilateral. Amor correspondido , raro, diga-se de passagem, não tem a menor graça. Amor gostoso tem que fazer sofrer, tirar o sono, e lá pelas tantas levar-se um belo pontapé no traseiro. Aí vira dor, dissabor, decepção e danos cardíacos.

Sem chance de durar para sempre esses sentimentos ditos amorosos, sucumbem na maioria das vezes. Batem de frente com outro tipo de amor, o amor - próprio, esse sim danado de se conter. Demora a se manifestar, mas quando aparece na jogada provoca reações até mesmo perigosas no amante desprezado. É o tipo mais perigoso de amor, pois se liga diretamente ao instinto de sobrevivência. Impulsionados por ele muitos sequestram, roubam e matam. Poucos conseguem sobreviver à solidão do abandono, a falta daquele amasso poderoso, daquele beijo que só o ser amado sabe dar.

E agora José?
Como viver sem os sininhos badalando nos ouvidos, a dorzinha de barriga, o friozinho no estômago. Como ouvir o Zezé Di Camargo e Luciano sem chorar? O mundo, antes primaveril e ensolarado vira em um inverno gelado e sem fim. A música mais ouvida passa a ser “Meu mundo caiu”. O ego despencou ladeira abaixo e a dor sai pelo ladrão. Um venenoso coquetel de emoções se apodera deste ser tão infeliz.

Ainda bem que dor-de-cotovelo tem cura. Um dia vem o socorro , não se sabe de onde. Deve ser do tal de amor-próprio, alerta o tempo todo, mas meio sem ação por conta da irracionalidade a que os sentimentos estavam sujeitos. E vêm os primeiros sinais de cura. Não era amor! Aleluia! Tratava-se de um sentimento forte, humano, irracional e estimulante, gostoso de sentir, mas que não se sustenta em si mesmo.O amor verdadeiro tem uma característica básica que é ser generoso, solidário e livre de dores e sofrimentos inúteis. É alegria, bem-querer e se sustenta em si mesmo.
Afora isso é pura confusão, insustentável.

Um comentário:

www.sualista.com.br disse...

www.sualista.com.br